sábado, 2 de abril de 2011

Comida de filósofo.













O que os olhos não veem o coração não sente!
Todos nós comemos com os olhos também, quando crianças somos muito mais seletivos. Com tempo isso passa, porque com o passar do tempo ficamos velhos e achamos importante comer mamão, alface, giló, ou fibras.
Eu tenho certos bloqueios com a aparência das comidas, algo que me embrulha o estômago é pão com manteiga molhado no café com leite, deus me livre dessa cena horrível!
Não sou muito de milho, mas estou superando, pricipalmente depois que descobri que quanto mais se mastiga o milho, eles depois se encontram lá no teu intestino todos micropedacinhos e saem tal qual como numa espiga de milho, sendo que o sabugo é o nosso cocô.
Agora o que me atordoa é mistura.
Bah, disso tenho pavor.
Não falo de mistura como define o paulistano, a carne que acompanha a refeição.
A mistura a que me refiro é a união de tudo no mesmo prato, tudo embolado, tudo junto e misturado.
Quandro criança comia tudo separado. Se tinha que comer salada, era só a salada, uma coisa de cada vez, depois só a carne, o arroz, sabores individuais.
Cresci, dos meus 11 para 12 anos e comi feijão com macarrão, uma evolução, um grande passo para ingressar no paraíso da mistura. No entanto não passou disso, nunca cheguei ao pão molhado no café com leite, porém não almejo isso.
Depois passei a montar pratos bonitos, bem separados, lindos pontos de cores, verdadeiras pinturas.
Quando entrei na faculdade o bandeijão foi um sonho realizado, cada comida no seu nicho, o feijão não se espalha no prato, a carne fica sem aqueles arrozinhos grudados, orfãos separados do bando de arroz. Não, tudo bem separadinho, como deve ser.
 Depois de um ano de bandeijão na faculdade a alegria do pobre durou pouco, o restaurante universitário passa a servir nossa comida em um grande prato branco.
 O difícil era controlar o prato para que a moça que servia a carne não jogasse ela em cima do feijão acabando de vez com a harmonia do prato, mas me tornei bom nisso, passei a me servir de carne primeiro, e solucionei o problema.
Depois veio o trabalho, em um estúdio em Santo Amaro, nosso chefe pedia para sua secretária do lar preparar nosso rango, feijão, arroz, carne e salada, tudo bem preparado, uma refeição digna. Ao ver meu prato e fobia, duas colegas de trabalho esperavam sorrateiramente o dia em que eu baixasse a guarda e elas bagunçassem, revirassem todo meu prato, tranformado tudo numa massa monocromática, uniforme só não homogênea devido aos grãos encontrados.
Nunca baixei a guarda.
Numa das raras oportunidades que tiveram de sabotar meu almoço, não o fizeram, talvez por respeito ao alimento, talvez por respeito comigo, não sei, mas sou grato.
O mundo continuou girando, eu indo a buffets, casas de parentes, minha própria casa, sempre fazendo pratos harmônicos e principalmente heterôgenios.
Até o dia em que chego em Goiás com a turnê da dupla e sou escalado para fotografar o pessoal da graxa, a peonada, os homens que montam o palco, os verdadeiros homens. A galera sem frescura. Pessoas muito sábias, verdadeiros filósofos. Um deles o senhor Danilo, me ensinou uma frase que levo agora para toda minha vida...
"Se caminhar fizesse bem, o carteiro seria imortal."
Sócrates, Platão, Proust, Nietzsche, vocês são umas bichinhas!
Na graxa é que mora a sabedoria!
Foi com essa galera que aprendi que misturado ou não o sabor esta na boca, não nos olhos, ou se tem medo do que está vendo, vai pra cima, encara de olhos fechados, por que aqui o sistema é bruto demais.
















5 comentários:

  1. hahahha, amo miusturar tudo, tudinho e fazer um prato texturizado. cada mastigada é quase um suspense, e é bem bom quando os dentes mordem o crocante (do repolho, da batata palha, do pimentão, da castanha...)! Pão com manteiga molhado no café com leite: AMOOOOO. Passei anos da minha adolescência comendo isso no café da tarde da casa da vó. Viva as diferenças! Vou testar um dia comer uma coisa de cada vez e ver como vai ser. Aguardo o próximo post! Carol Melo

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  2. muito bom o texto, toscani! agora essa coisa de não misturar é muito bichinha pra quer tem um blog chamado "culinária tosca". não é mesmo!? hehehe

    ah! hj eu fui almoçar num oriental vegetariano aqui e acabou q pedi pra trazer a comida pra casa, numa quentinha. Resultado: tudo misturado quando resolvi almoçar as 7 da noite.hehe

    bjs, Débs

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  3. e não é que o fotógrafo mais bixa desse brasil mandou ver num prato colorido em goiânia!!! estava lá pra conferir essa proeza. agora, vô te falar hein, que medo de tomar batismo da turma da graxa...nunca vi tanto puxasaquismo...vira homi, gaúcho!!!

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  4. saudade de pensar em bagunçar teu prato =)

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  5. Eu também misturo tudo, se igualmente a comida vai parar para o estomago!
    Eu sempre faço pedidosja porque não tenho tempo de cozinhar, e gosto de pedir distintas coisas.

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