quinta-feira, 18 de novembro de 2010

"A dorada ambrosia da avó de minha fia!!"
















Sábado frio em São Paulo, véspera da eleição presidencial de 2010.
Três casais, se reúnem. Três homems e três mulheres, como manda a bíblia. Juntos numa mesa comem pão, bebem vinho, outros cerveja, queijos, pastas e fiambres. Em pauta os caminhos da política brasileira, os personagens da eleição, os deputados estaduais e federais, os senadores, o governador e claro o presidente da república. A mesa palco da democracia, trazia opiniões diferentes, e cada canditado, menos o Serra, apresentava inumeras qualidades que cativava um ou outro eleitor da mesa.
Dilma por ser o primeiro homem de sexo feminino a liderar as pesquisas como presidente da república.
Marina Silva por ser a única mulher concorrendo a presidência.
Por fim Plinio Arruda Sampaio, o burguês socialista zumbi, de língua afiada.
O amargor da conversa nos fez rapidamente optar por uma sobremesa.
De bico doce, com diria meu sogro Paulo Xavier Faria, marido de Elusa Menezes, dona da receita de ambrosia que fiz para adoçar o bico dos eleitores para logo mudarmos o paladar de nossa prosa.
Cada um com seu canditado e nenhum com o Serra, seguimos a noite falando outras bobagens bem mais importantes e relevantes que política.
Foi a primeira vez que me arrisquei a fazer a ambrosia da sogra, conhecida por muitos como a melhor ambrosia do mundo. Já vi cenas lindas e outras dantescas por conta do doce de ovos de minha sogra. Já vi Mauro seu irmão levantar um pote dourado do doce como o troféu mais cobiçado do mundo. Vi um protesto de mulheres Menezes com cartazes e megafones, naturais, pois estas são boas de goela, gritanto alvoroçadas...
– Ei Baia mereço ambrosia!!
Pois este doce dos deuses, como também é chamado, só é dado no natal para os homens da familia.
E um deles, o menino Eduardo Menezes, duda, abriu o pote conquistado, e me tirou do meu autismo enquanto eu desenhava em meu caderno, o que é muito difícil. O rapaz em questão, pediu a atenção de todos, inclusive a minha, abriu a tampa do seu vidro ambrosia e na frente dos presentes deu uma horrenda escarrada no doce, proferindo as seguintes palavras...
– Essa é só minha!!
Eu que não saio do meu autismo para nada, me arrependi de ter saído pela primeira vez e me deparado com tal cena. Enfim, decidi que o melhor que poderia fazer por mim além de lavar meus olhos com muita água e pimenta, seria aprender a fazer a receita de minha sogra.
Quando veio para São Paulo pela primeira vez, minha sogra fez sua famosa ambrosia em meu fogão. Quanta honra, eu um pequeno aprendiz, observo atententamente o delicado processo de feitura do doce, anoto as medidas e guardo o caderno por três longos anos.
Os anos passam, nasce o blog, nasce alice, renasce a esperança e com ela a coragem de fazer a receita mais perfeita e intimidadora de ambrosia, no dia 02 de outubro de 2010.
O resultado?
Ainda falta muito para mim, longos anos para aperfeiçoar a melhor ambrosia. Me faltam as horas de fogão de Elusa, me falta quebrar muitos ovos, mexer muita panela, mas sigo no meu caminho de aprendiz, persistindo a procura da ambrosia dourada.
Assistam agora a maior obra cinematográfica realizada pela Vergonha Alheia Própria Produções, um filme incrível, um quase documentário, um quase reality show, um quase vídeo modo de preparo, aliás tentem descobrir como se faz o doce no meio desse diálogo tão profundo entre amigos, drinks, doces, cafés e cigarros.




INGREDIENTES:

• 1,5 litros de leite de saco. (aqui não me refiro a esperma)
• 9 ovos, vermelhos e caipiras. (tipo os do Zé Dirceu)
• 600g de açúcar, cristal. (não do refinado como gosta o Aécio Neves)
• 1 colher de sopa de cravo da índia. (ou de um indiano se preferir)
• canela em pau. (não me vem com pó, é pau)