quarta-feira, 27 de março de 2013

A Menina Mais Bonita da Cidade!























Sim, é um título do Bukowski, juro que pensei em outra coisa, mas nada é mais adequado para a história que esse título.
Vamos a ela...
Eu a via como se fosse a menina mais bonita da escola, aquela que sempre para todo mundo. E todo mundo para pra olhar a qualquer hora. Aquela que você gira o pescoço quando passa, e o tempo passa devagar. Todo dia, a caminho do metrô, ou quando vou ao Mercado Público de Pinheiros, minha cabeça quebra, gira, muda o sentido. Mesmo na companhia da minha mulher, já cheguei até a suspirar por ela ao lado de Lúcia. Onze anos morando no bairro, sempre nos encontramos no mesmo ponto da Teodoro Sampaio, entre as esquinas da Pedroso de Morais e Deputado Lacerda Franco, ela sempre vestindo dourado, e eu nunca me despindo da vontade.
Hoje saí de casa para comprar lâmpadas, o homem moderno não sai mais para comprar cigarros, passei por ela, linda e bronzeada. Gostosa, desculpe, mas não ha outro adjetivo no mundo. Olhei de canto, como fiz toda vez, rápido, discreto, mas suficiente...
Comprei oito lâmpadas, duas econômicas e seis incandescentes, tal qual meu desejo.
Fui pagar, retirei do bolso com a mão trêmula minha carteira. Percebi que esqueci o cartão. Liguei para minha mulher.
– Gatinha? Tu tá em casa ou já saiu?
– Já saí!
– Tá caminhando?
– Não!
– Tá no táxi?
– Não!
– Tu tá voando?
– Hahahahaha! Não, tô aqui na reunião já...
– Ah tá...É que esqueci meu cartão...Beijo.
O plano perfeito do destino estava arquitetado.
Casa sozinha, filha na escola e a cachorra ainda não fala.
Subi as escadas, num pé peguei o cartão, no outro já fechei a porta, corri, paguei pelas lâmpadas e fui até ela.
Quando me viu, eu a vi, dessa vez o olhar foi bem mais demorado, entrei, levantei a cabeça e disparei.
– De quê que é?
Calne, plesunto quejo, flango catupily!
Toma a frente para me responder um senhor que deve ser seu pai, ou seu criador, sei lá...
– Hã...Quero de carne, e esse de que que é?
Calne, plesunto quejo, flango catupily!
– Então uma coxinha e um desse negócio de presunto e queijo.
Fui pagar, e vi uma placa...Sabia o que estava escrito, mas precisava ouvir...
– Não aceita cartão?
Não, só dinheilo! Só dinheilo!
– Espera! Já volto.
Corri, e com o um pé abri a porta, com o outro, peguei o dinheiro.
Paguei, peguei.
Já em minhas mãos, abracei, corri pra casa com ela!
Dona Fogassa, paguei pelas suas carnes, sua coxinha e essa coisa estranha e cilindrica recheada de presunto e queijo, a quantia de R$ 7,30, saiba que, depois de onze anos hoje finalmente eu vou lhe comer!