quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Quero mais um ano agridoce, como a geléia de pimenta.





















Hoje deixo a velha cozinha.
Abro a porta da nova. Se eu parar pra pensar o que foi 2012 pra mim, sem dúvida quem vai liderar a lista é a mudança de logradouro. Sair da cozinha mais legal que já vi e vivi na vida, e procurar uma nova, um novo apartamento, marcou de fato.
Quando no dia 19 de julho me ligaram pra falar, mas só ouvi 4 dias depois...
"Vocês tem até o dia 31 de setembro pra deixar o apartamento."
O meu mundo acabou, bem antes do previsto pelo calendário Maia.
Gatinha chorou, eu chorei escondido, Alice chorou, mas deve ter sido por outro motivo.
No entanto o choro de Lucia abriu meus olhos. Sempre ela fez e correu atrás de tudo, nossa relação é de mutualismo, cooperativa, mas ela faz o mundo girar mais rápido e seguro. Nesse dia estava cansada. Não queria mais ser a adulta, a cabeça pensante. Chorou e disse que agora estava comigo.
Eu matei no peito, tive que matar, é a expressão mais correta.
Fomos para um site e procuramos, marcamos os melhores preços nas melhores localidades. E o mundo tinha caído, tinha desabado...
Como nas músicas da Maysa.
O tempo passava, odiávamos o casal que queria tomar o nosso lar.
Viram que tinhamos uma moradia cheia de amor, carinho e muito da nossa história, mas decidiram acabar com tudo.
Estava difícil encontar um novo lar.
Tinha um perto de casa, mas teríamos que abandonar o outro cafofo, o Cafofo.
Estava cada vez mais longe o sonho de continuar no mesmo bairro, e das preciosidades de cada mercado, padaria, feira que já tinhamos eleito nas caminhadas com a cachorra e depois com a criança como as melhores opções para nossa simples vida sem carro.
Então, deixamos de odiar, passamos a entender. Começamos a olhar pro velho apartamento como um amigo que vai viajar pra bem longe. Ou como alguém que cuidamos por 7 anos, mas que depois precisa voltar pra sua verdadeira casa, ou ser a verdadeira casa dos verdadeiros donos.
Com esse recente olhar, achamos um novo, bem grande, bem localizado, muito bem iluminado, bem mais caro. Na avenida 9 de Julho. Mas se sacrificassemos o Cafofo, poderiámos morar lá...
Decidimos! Eu ou Lucia deixariámos o Cafofo de vez.
Marcamos uma reunião, e nesse momento aparece na minha frente outro grande momento de 2012 e da vida, a amizade verdadeira.
Camis e Kates, duas grandes irmãs, dessas que a gente escolhe no mundo, nos seguraram no bairro e no Cafofo. Estava decidido o Cafofo só poderia existir com os 4, portanto ninguém sai, bradaram as duas. A procura continuou.
Algumas visitas ao apartamento dos sonhos na 9 de Julho, e a triste realidade, e a constatação feita por outra amiga, Bárbara, é o nome dela mas pode ser um adjetivo também, de que teriámos que gastar muito além do aluguel e do condôminio para morar lá.
O sonho acabou e também os brioches.
Como quem procura acha, gatinha olhou para o céu e na sacada de um apartamento viu a placa de aluga-se. Me ligou, eu liguei pro número, visitei o apartamento e me deparei com uma parede verde, um mapa-mundi na cozinha e a vontade imediata de me mudar.
No outro dia a gatinha é quem visita o apartamento.
Volta com uma grande vontade morar lá e com o mapa-mundi da cozinha.
Daí pra mudança foi só um corre-corre, rápido, atrás de documentos, depois a espera para aprovação, o sim, o liga pra transportadora e o empacota.
Assim mudamos, e com a ajuda de todos, pra melhor.
Fábio e Preta raptaram a Alice no sábado para finalizarmos a mudança. E entregam para minhas irmãs no dia seguinte, para a criança já dormir num quarto novo, numa casa nova.
Luciana, Camis, Tereza empacotam alugmas coisas, quem chega, pega uma caixa, foi assim durante todo agosto com gatinha, enquanto invisto meu tempo num curso de dublagem.
Carol e Rodrigo fizeram nosso último jantar no prédio 135. Depois nos deram umas caronas transportando muitas coisas para o novo número da rua paralela.
Katiane e Felipe Damião o mesmo.
No outro dia Moika e Fê Kalena, cedo, nos ajudaram e desmontar, desinstalar, montar e reinstalar.
No fim do dia um almoço às 18 horas no 135.
Meu sogro e Gatinha transformaram a nova casa, em antiga casa, ficou tudo igual, só que melhor...
Eu e meu sogro reconstruímos a mesa da cozinha, que foi cedida pelo casal Elis Martini e André Schröder.
Em uma semana nem parecia que tinhamos nos mudado, parecia sim que morávamos há 7 anos alí e logo iriámos completar 8...
Essa nova casa foi construída por tantos amigos. Pronta é mais que uma casa, é um grande salão de festas, mesmo quando não estamos nela; e descobrimos isso enquanto viajamos e deixamos de caseiros alguns amigos, o que é muito legal.
Meu 2012 teve muitos outros momentos, foi um bom ano, como todos os 33 que já vivi, esse tornou-se especial, difícil, talvez por isso eu goste dele.
No entanto tudo isso só pra apresentar a cozinha nova. E uma receita.
Contemplem a nova cozinha da Culinária Tosca.
O que apresento é uma geléia de pimenta. E pra mim essa receita complementa muito bem essa história. Agridoce e picante. Cortei os momentos picantes, mas sabe como é apartamento novo...

Enfim, os ingredientes.
• Seis pimentas dedo-de-moça, (sem sementes).
• 2 xícaras de água.
• Suco de 2 limões.
Assistam agora a primeira obra cinematográfica da Vergonha Alheia Própria Produções, na nova cozinha da Culinária Tosca. E feliz 2013, que ele venha doce, picante e amargo, mas cheio de vida!