quinta-feira, 25 de julho de 2013

Redação de férias






















Sem saber, no dia 26 de janeiro peguei um avião com a minha Alice, para a festa de formatura de um primo querido que mora em Porto Alegre. Tarso Germany Dornelles tornou-se bacharel em geogafia, nesse dia 26. No outro dia, na varanda de minha tia, tomava mate com meus primos, que tem uma padaria em Porto Alegre, falavamos sobre xis. Já era dia 27, e as notícias não eram as melhores.
Viajei 4 horas com muito aperto no peito. O tempo não passava.
Deixei Alice em Santa Maria. Vi a cidade mais quente, em pleno verão, com um clima muito diferente, não sentia nem frio, nem calor. Não conseguia definir o tempo.
Por todos os lugares que passei, que vivi minha infância e adolescência, só via a tristeza e cada vez aumentava a minha. Segunda dia 28, voltava para São Paulo, e Alice, ficou, na cidade que aprendeu a amar. Pela primeira vez, a pequena passa férias sozinhas.
Voltei agora, neste mês, dia 13 de julho, e reencontrei a cidade, que já recomeça a sorrir.
Santa Maria, apareceu no mapa do Brasil, não como eu gostaria, mas no nosso reencontro vi e vivi de novo o que a cidade sempre me deu.
Vivi ótimas histórias nessa visita, e vou conta-las em três atos.

Primeiro ato, o Café na Copacabana.
17 de julho. Tenho um almoço marcado na casa de minha cunhada. Alice já está lá, posou com as primas. Eu dormi até muito tarde, 11:44, pra ser bem exato.
Vou para o calçadão da cidade, entro reto na doceria, que não tem na simpatia sua melhor qualidade, a doçura do estabelecimento está nos quitutes, e somente neles. Mas é o que importa.
Preciso de um salgado pelas manhãs, minha gatinha Lucia, é o oposto, sempre precisa de um docinho matinal. Peço uma empadinha de camarão e uma massa folhada rosa, (para mim, a especialidade da casa, o que compenssa a falta de simpatia no atendimento).
Tomo um café duplo para acompanhar as duas guloseimas. E tomo o melhor café da temporada.
Moral da história a gente não precisa te fazer sorrir quando te atendemos, precisamos apenas do teu sorriso de satisfação após a primeira mordida!





















Segundo ato, o Churros no Frio, e com Salame.
Era dia 22, já estava com as malas prontas, fui pra Copacabana de novo, ia trazer algumas massas rosas para minha gatinha. Coloco a cabeça na loja. Tá fechando.
– Tem massa rosa?
– Não, já acabou.
– Nem panelinha de coco?
– Nada...
– Obrigado.
– De nada.
Saio da loja e o frio está terrível. Mas Santa Maria tem uma arma secreta. Um lugar chamado Woltmann. O Woltmann, sabe atender. Simpatia, também não é o forte.
No entanto, no Woltmann ele frita apenas poucos churros, e cada um que se pega é muito quente, um abraço de mãe quando a gente sai daquele banho do inverno santamariense...
Minha mãe além do abraço, me levava um cafézinho quentinho, servido no copo para eu esquentar as mãos e o corpo.
Nesse dia 22, o Woltmann foi minha mãe. Aliás era sempre tão bom ir com ela no calçadão da Bozano e ganhar um churros por bom corportamento, algo do tipo, não enlouquecer nas lojas de brinquedo. Ou quando ela ia sozinha, mas voltava com eles embaladinhos pra entregar pro caçula e mano, é como toda mãe gaúcha chama seu primogênito.
Como tão devagar, as mordidas são lentas, saboreando, fritura, açúcar, canela e doce-de-leite, sentindo um a um cada sabor desse cobertor comestível.
Caminho uma quadra com esse sabor guardado no meu palato, respiro devagar...
Segunda quadra, seguro ao máximo o gosto do churros, vejo uma feira, vejo o pessoal desmontando, vejo cair lentamente um salame no chão.
– Mãe, "ajunta" o salame!
– Aonde?
– Do chão, caiu no chão!
– Ma não vejo...
O jovem saudoso que caminha leve no frio, pega e entrega na mão de um senhor, o vendedor...
– Mas tá bonito esse salame! Quanto é?
– É vinte pila o quilo! Prova aqui!
– Bah, vale até mais... Mas não tenho pro quilo. O senhor aceita cartão?
– Não, ainda não tamo moderno...
– Sem problemas, tenho só sete pila no bolso.
– Ma isso dá uma perna.
– Então vou levar...
– Tó, pesado dá sete e quarenta! Sete pra ti!
– Obrigado, esse é o que caiu no chão?
– Non!!!
– Eu quero o que caiu no chão...Acho que ele queria ir embora mesmo.
– Tá aqui! Mas vai pra onde?
– Pra São Paulo...
– Ala pucha!
– Pois é...Muito obrigado.
– Obrigado tu!
No fim, o gosto que tenho agora é de churros com salame, não era o que esperava, até porque é bem inesperado um salame pular na nossa frente.





















Terceiro ato, um desejo de Xis, na Capital do Xis!
Essa começa, na quinta 18, janto com meu pai e uns amigos. Carne de porco, finas costelinhas de porco, assadas pelo meu Tata, mais um gadinho, pra acompanhar. E por falar em acompanhamento, cachaça gaúcha, forte que nem tapa de louco, e cerveja, com certeza.
Jantamos bem, e discutimos o destino da dupla grenal.
Algumas cachaças e cervejas depois, a fome vem de novo. Costelas? Não sobraram.
– Bah gurizada vamo come um Xis?
– Bah Nariga, a essa hora?
– Velho, é a capital do Xis. Vamo nessa, tô tri na pilha!
Rodamos a cidade toda, e nada. Claro, o frio na quinta-feira já tava demais! Nenhuma carrocinha dessas de rua conseguiria suportar, sem cachaça.
Terminamos o rolê na rodoviária, sem Xis, mas comprei meu retorno pra Porto Alegre, e tomamos mais 3 cervejas, no frio, porque lá a gente aguenta!
Sexta-feira, aniversário da Alice, véspera do dia do amigo, churrasco noturno com os amigos regado a vinho e muito truco.
Rafa manda muito no assado, o churrasco é um primor...Já estou no sexto churrasco na cidade.
Mas ainda, nada de xis.
Sábado, festinha da Alice. Antes cozinho pro meu pai, faço uma galinhada, ele não gostou da minha galinhada, mas isso é outra história, que precisa ser contada com riqueza de detalhes.
Faço o almoço, sirvo, como e sumo.
Tenho que fazer o molho de cachorro-quente da festinha da Alice. Faço, sirvo e como.
A festinha vai bem. Uma maravilha.
Chegamos em casa, preciso de uma cerveja, mentira, preciso de um Xis.
Passo pela lancheria (botei o termo sulista mesmo), compro cinco cervejas e faço a pergunta...
– Que horas fecha?
– Uma.
– Beleza, depois passo aqui!
Chego na casa de meu amigo e começamos a beber e claro, jogar um truco.
Uma partida e meia depois, vem o desejo...
– Velho, preciso comer um Xis...
– Ah para Nariga, de novo com isso...
– Sério velho, tô desde quinta querendo comer...
– Bah velho, vou ligar lá...
– Alô, o cara, eu quero um Xis...O quê? Já fechou? Não tá mais fazendo lanche? Pronto Nariga, tá fechado...
– Mas ele falou que ficaria até a uma e são meia-noite e trinta e dois...
– Mas tá fechado loco...
– Não pode!
– Ah, tá loco...
– Bah velho, não dá, preciso ir lá...
– Cara...
– Olha velho, é melhor eu ir, já volto, senão vou ter pesadelo com isso, eu me conheço.
Saio, do apartamento do amigo, e chego na lancheria da esquina.
– Daí velho!
– Opa!
– Saí um Xis?
– Bah, já encerramos...
– Putz, sério...
– Sério.
– Bah velho, tô numa pilha de comer um Xis.
– Tá bom, eu faço pra ti...
– Sério?
– Sério!
– Não, não quero incomodar...Posso voltar amanhã.
– Tranquilo cara, eu faço...
– Bah valeu!
– Qual vai ser?
– Um da casa?
– Da casa? O mega?
– Esse é o nome?
– É...
– Quero um mega!
Fico sentando esperando, mas não me aguento, quanto escuto o barulho da mateiga já me aprochego junto da chapa para aprender as manhas e começamos uma conversa.
– Bah gurizada, saudade dum Xis, e esse barulhinho da chapa é foda...
– Tu é aqui da banda?
– Era, minha sogra mora ali, e tenho um amigo que mora ali naquele outro prédio...
– Massa.
– Agora tô em Sampa.
– Bah que massa! E como é a pizza lá?
– Que nem o Xis aqui, qualquer lugar que tu coma ela é perfeita.
– Sério...!?
– Mas e o Xis?
– Nada. Bom só aqui em Santa, nem Porto Alegre considero muito...
– Prontinho magrão, tem uma "maionesezinha" de cortesia, caseirinha, tu vai gostar! Esses dias levei um desses "mega" pra comer em casa, quase não aguentei...
– Pois, mas pra quem tá na chapa, sentindo todos os aromas é difícil mesmo...
– Tá aqui!
– Bah, brigadão! Quanto devo?
– Doze pila?
– Bota quinze...
– Não...
– Cara, uma mão lava a outra, vocês foram tri-massa me fazendo o lanche, é o mínimo.
– Valeu...
– Então tá gurizada, se for bom eu volto amanhã!
– Até amanhã!
Entro no apartamento do meu amigo cantando We Are The Champions, muito feliz com o Xis partido em dois...
Chega o outro dia...
– Daí tchê, beleza? Vê um filé mignon bacon ovo e um completo sem ervilha por favor!





















Moral das histórias, Santa Maria, um beijo pra ti. E ainda faltou o galeto do Vera-Cruz e do Augusto, a massa alho e óleo do fumacinha, os pastéis da casa do pastel e do pastelão e muito, mas muito mais repetições dos citados acima!

  




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