sexta-feira, 31 de julho de 2015

Sua culinária já foi mais tosca
















Tem gente me dizendo isso. E não é mentira. Evoluí, troquei figuras, aprendi. E um dia, de repente caí numa produção de fotos do site Panelinha, depois uma foto que era pro site, virou capa do livro de Rita Lobo e quando percebi eu já estava montando meu prato, isso mesmo, montando o prato, com cebolinha cortada com tesoura, o queijo ralado na hora e um azeite derrubado ao estilo Jackson Pollock para fazer aquela foto no instagram.
Daí pra ir pra flor de sal é um pulo, e todo mundo sabe que a flor de sal é a porta de entrada para outras especiarias. Cúrcuma, cominho, tomilho, daí chega naquele ponto que o que chamava de molho branco vira molho bechamel...
Então realmente tu para de ser tosco e vai te gourmetizando mesmo sem querer. E quando coloca melado no queijo coalho, parmesão no mel e chama migalhas de pão torrado de croûtons, é o fim da linha.
Vem tudo muito rápido, do set do Panelinha ao jantar que o Alex Atala fez para a festa incrível na Rua Oscar Freire, da marca de sapatos "x" que domina as calçadas da mesma e claro faz parte da profissão de fotógrafo ir cobrir o evento, ver quem passou por lá e o que comeram.

Nunca vou esquecer do dia que eu estava fotografando a semana de moda, sentado editando as imagens na sala de imprensa e umas colheres passaram por mim. Olhei para elas.
Brigadeiro, brigadeiro branco e um brigadeiro verde.

– O que é esse verde? Pistache?

Pensa a mente levemente gourmetizada que nessa época cobria eventos socias de São Paulo.

– Não. É de capim-santo.
– Capim-santo? Capim-limão? Cidreira?
– É!
– Velho, de agora em diante por favor só me aparece aqui com esse verde.















Amo essa erva, sou um sujeito que em geral ama ervas, a maco...mate principalmente.
A erva-mate tem um sabor especial por natureza, porém, quando adicionamos outras ao chimarrão ele fica muito saboroso, minha preferida sempre foi a cidreira, capim-santo.
O chimarrão no sul começa cedo, e quando a criança quer tomar mas ainda não aguenta o amargo, as mães, tias ou qualquer um que quer iniciar a gurizada na tradição, oferece o mate doce.
Tem dois tipos, o mate doce feito com água, erva-doce, cidreira, cravo, canela e açúcar e o com as mesmas especiarias, mas troca a água por leite. Eu sei, parece nojento, e quase é, mas naquela época não era, tenho uma boa lembrança do sabor.
Lembrança essa que renasce quando experimento o brigadeiro verde.
Voltei na infância, inclusive colhendo o capim e cortando as mãos na casa da avó. Até a dor de um corte com erva-cidreira é bom.
Em 2013, durante toda semana de moda, comi incontáveis brigadeiros verdes. Depois, numa outra pauta, um novo reencontro, e no restaurante de nome Capim-Santo, o mesmo que tinha feito o catering da São Paulo Fashion Week.
Agora o ano é 2015, de volta à editora Panelinha. Vem prato, vai foto, vai prato, vem foto. Segue o dia, então lá pelo fim dele, nossas últimas fotos eram de chás, o estúdio é invadido pelo cheiro de erva-cidreira,  capim-santo, capim-limão, chamem do que quiser, eu chamo de alegria.
A grande vantagem de fotografar comida e gostar de cozinhar é poder trocar receitas.
As gurias do panelinha respondem qualquer uma de minhas perguntas. Tiram todas minhas dúvidas.

– Caras, bah tô com desejo de brigadeiro de capim-santo. É dificil fazer? Só a Morena Leite que detém a receita? Só ela pode fazer?
– Não! É bem fácil!

Nesse, "Não! É bem fácil!" de Laura Parreira, apoiado e aprovado por Carol Stamilo e Duda Mello mudaram minha vida.






















Aprendi a fazer o brigadeiro verde. Fiz a primeira vez só uma lata, para experimentar. Deu certo, daí no aniversário da minha gatinha fiz 3 latas.
Mas teve os que surpreenderam, porém não positivamente.

– Que é isso?
– Brigadeiro de capim-santo!
– Que foi? Tinha acabado o chocolate?
– É bem bom...
– Sua culinária já foi mais Tosca.

Ingredientes:

• Uma lata de leite condensado
• Meia xícara de leite
• Três colheres de sopa de manteiga
• Capim-santo, erva-cidreira ou capim-limão, um punhado, vamos pensar em um montinho dele que dê uns três centímetros de diâmetro da sua mão.
• Coador de pano. (Não é pra colocar na receita, é só pra coar)

Modo de preparo:

1. Faça um chá com o capim e a meia xícara de leite. Deixe ferver, vá controlando a fervura para não derramar, mas quanto mais ferve, mais solta "tinta verde" pra colorir seu brigadeiro.
2. Tirando o chá de leite do fogo, é legal passar ele num mixer ou liquidificador, depois coar no coador de pano e reservar. Descarte as folhas.
3. Leite condensado na panela, e nesse momento, apenas duas colheres de sopa de manteiga, e taca fogo.
4. Adicione o chá de capim-santo com leite.
5. O ponto é o mesmo do brigadeiro universal de panela.
6. Desligue o fogo e acrescente a última colher de manteiga, para dar aquele brilho.

Pronto!







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