Há 12 anos
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
HISTÓRIA VERDADEIRA UM POUCO INVENTADA DO CARRETEIRO.
O arroz de carreteiro é um prato muito importante na culinária gaúcha. Está ligado a essa cultura tanto quanto o chimarrão e o churrasco. Na verdade o arroz de carreteiro é a vida após a morte do churrasco.
Depois daquele almoço farto de domingo, onde o gaúcho se empanturra de carne, o que ele não conseguiu engolir, que sobrou por um erro de cálculo, de noite vai se transformar no arroz de carreteiro.
Lembro dos acampamentos com os amigos, onde tive minhas primeiras lições de culinária, os mesmos erros de cálculos aconteciam garantindo o cardápio da noite. Aliás certa vez num acampamento o amigo encarregado do carreteiro daquela noite pergunta ao cozinheiro mais experiente que no dia estava de folga:
– Tchê, mas quantas xícaras de arroz boto para fazer o carreteiro?
O cozinheiro com experiência e com fome, mas sem paciência responde...
– Bah loco, só eu como uma!
Ele conta então oito pessoas no acampamento, e coloca numa pequena panela a quantidade que julga correta. Vinte minutos depois a panela transborda, a cena é hilária todos sentados olhando, esperando pacientemente o arroz ficar pronto e veem a tampa da panela subindo lentamente, cada um com sua cerveja, rindo do espetáculo, enquanto o cozinheiro inexperiente esbraveja, e culpa o outro.
O sabor orginal do carreteiro vem do charque, carne salgada e muito deliciosa.
Era produzida nas charqueadas e consumida por todos brasileiros, mais precisamente os escravos, era o alimento que ia pra as regiões que produziam café e cana-de-açucar e para a região mineradora. O charque foi o responsável pelo crescimento da economia gaúcha, no entanto o charque gaúcho tinha preço maior ou similar que o produzido no Uruguai ou Argentina, devido a onerosas taxas tributárias instituídas pelo império aos estancieiros gaúchos, o que deixava o custo da alimentação dos escravos bem maiores para o resto do Brasil, pois o charque era o alimento das senzalas. Então para o resto do país era muito mais vantagem comprar dos hermanos, que com o dinheiro compraram instrumentos musicais, montaram uma banda, e gravaram o sucesso Ana Julia.
A Província de São Pedro do Rio Grande Sul, ficou indiginada, pois a música além de horrível foi financiada com um dinheiro que poderia ser utilizado de uma maneira muito melhor pela província, que então declarou guerra e passou a se chamar República Riograndense de 1835 a 1845, tempo que durou a revolta contra o Império – Me nego a fazer uma piada de nerd.
Até hoje este prato é muio apreciado no Rio Grande do Sul, uma receita que passa de pai para filho, pela sua simplicidade e claro pelo sabor incrível. Meu pai sempre fez um carreteiro de charque espetácular, elogiodado por muitos, lembro de ficar ao seu lado, roubando pedaços crus de charque, pegava alguns cubos da tábua onde ele cortava, e saia bem faceiro degustando essa especiaria gaúcha, depois voltava e repetia a façanha, até ouvir um...
– Sai daqui guri de merda, senão te corto os dedos.
Hoje o Brasil todo consome, como faziam antigamente só os escravos, mas alguns restaurantes fazem de uma maneira mais requintada, metropolitana. Restaurantes charlatões preparam o carreteiro com bacon, pimentões, tomate, ervilhas e mais outros legumes frescos. Bobagem.
O carreteiro tem ser feito da maneira clássica.
Arroz, charque ou sobra de churrasco, cebola, alho e no máximo um pouco de salsa e cebolinha.
Lembrem, os clássicos nunca morrem, exceto quando são assassinados, como fizeram com as embalagens de fermento Royal e Maizena.
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vc acha que o arroz de charque é primo do barreado?
ResponderExcluirAchamos um nome ideal para o carreteiro com sobras de churrasco: CARRASCO - CARRETEIRO DE CHURRASCO. ZECA DORNELLES - zeca.lisboa.mc@hotmail.com
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