quinta-feira, 5 de junho de 2014

Abandonado!























Abandono.

Com um simples Google cheguei nisso: ação de deixar uma coisa, uma pessoa, uma função, um lugar; abandono da família; abandono do posto; abandono do lar. Esquecimento, renúncia; abandono de si mesmo.

Esquecimento, renúncia, abandono de si mesmo!

Lendo essa última frase pensei na atrocidade que cometi com este blog, esquecer o Culinária é esquecer de mim, me anular, deixar de lado o amor próprio.

Quando foi que deixei de me amar? Quando foi que percebi que eu não valia nada, não precisava da minha própria atenção?

Sempre gostei muito de mim mesmo, sou vaidoso, sou ególatra, encontrei no Facebook um lar, conto o que faço, o que comi, com quem andei, minhas tristezas, minhas alegrias, divido minhas músicas no ukulele, tudo o que é meu, tudo que sou eu, eu e mais eu...

Por que abandonei quem tanto amo? Nem percebi a falta que me fiz. E todo dia fiz o mesmo. Acordei, olhei o telefone, abri o Instagran, fui para o Facebook, fui para o banheiro, lavei meu rosto, liguei a televisão para a minha filha, me olhei no espelho, reparei na calvície, disfarcei ela, desfiz o que tinha feito, e, mais uma vez, percebi que não adianta disfarçar.

Fiz café. Cinco fatias de pão na mesa. Manteiga de um lado, requeijão do outro. Presunto, duas fatias de queijo prato, manteiga de um lado, manteiga do outro e põe pra brigar com o George Foreman. Repito a operação nas outras duas fatias para a Lucia, e repito o processo na quinta fatia, para a Alice.

Levo Alice na escola, estou no Instagram nomeando uma foto com a hashtag "aprende blogueira". Vesti Alice lindamente!

Volto pra casa, sento no computador, entro no Facebook e o planetinha tem um número 5 avisando que o look da menina fez sucesso, cheio de "ha ha has" e "kkkkkks" e "nossa, como é fofa".

Começo o meu dia, saio do Facebook, vou para o banheiro, me olho no espelho, me acho gordo, mas ainda dou um bom caldo, volto pro computador, vejo meus e-mails, entro de novo no Facebook, vou ao banheiro, me olho no espelho, sento e vejo o Instagram.

Levanto, lavo as mãos e me olho no espelho, fico bem de barba, vou deixar o cabelo crescer de novo.

Tenho feito tudo igual. Me amado da mesma forma. Fui pra praia no final de fevereiro, estava correndo, fiquei bronzeado. Voltei pro Carnaval, usei um bigode, continuei bonito, minha cachorra ficou doente, minha cachorra morreu, ainda sinto muitas saudades dela, principalmente quando abro a porta e ela não vem mais me receber com aqueles olhinhos curiosos de "onde tu tava?" e "agora é minha vez de sair!".

Março não foi legal, e ela morreu num dia 21. Agora no café, na hora do misto quente, não escorrego mais o presunto debaixo da mesa, não deixo acidentalmente um queijo cair no chão. Alice não tem mais a desculpa de não comer tudo dizendo: “Vou deixar esse pedaço pra Baba”.

Abril não vi passar direito, mas peguei um livro de culinária na mão, era dia 17, e na capa dele havia uma foto minha. Muito orgulho, muita felicidade, muito amor próprio!

Maio foi legal, o mês do trabalho. Num primeiro de maio, dia do trabalho, eu estava na praia, comi churrasco, peixe frito, lula frita, pastel, milho e e eu, que nem gosto tanto de Beatles, prefiro os Stones, brinquei de Lucy in the Sky with Diamonds.

Depois só trabalhei, acordei cedo todo dia, fiz o meu café e deixei as torradas (misto quente) das minhas gurias prontas, enroladas num filme plástico para que elas colocassem no George Foreman quando acordassem.

Junho é agora. No dia 1º comecei uma galinhada na madrugada, nesse mesmo dia primeiro, domingo à noite, servi ela para 13 pessoas, mais a aniversariante, pessoa que amo muito, logo depois de mim.

Na segunda, 2 de junho, almoçamos cinco pedaços de galinha. Depois, à noite, fizemos outra festa, usei as 11 galinhas que sobraram, fiz elas com molho e servi com polenta mole para 9 convidados, mais a aniversariante e a filha dela, que amo mais que a mim mesmo.

Fiquei todo esse tempo sem postar, deixei o blog abandonado, sem amor, acho que usei o meu luto como desculpa, quando ela morreu eu morri um pouquinho.

Mas eu voltei, e eu voltei a me amar.

O Culinária Tosca voltou! E agora teremos uma pequena série de receitas, sem tempo certo para acontecer, mas que serão postadas aqui em homenagem à pessoa-cachorra. Todos os aromas e sabores preferidos da Baba.

Hoje, fique apenas com a receita do meu misto-quente, homenageando as 100 gramas de presunto que eu pegava a mais no mercado só pra eles caírem por acidente debaixo da mesa.


Ingredientes mistosca quente:

• duas fatias de pão de forma
• uma fatia de presunto ou seu fiambre favorito
• duas fatias de queijo
• requeijão
• manteiga
• dois copos americanos clássicos

Modo de preparo:

Manteiga de um lado, requeijão do outro. Presunto, duas fatias de queijo prato, manteiga de um lado, manteiga do outro e põe pra brigar com o George Foreman, reduza a força aplicada do George Foreman com os dois copos americanos clássicos.